Artigo: Ronco, um mal nada silencioso

*Dr. Fernando Cesar Mariano e Dr. Rodrigo Cerci

O ser humano passa, aproximadamente, um terço de sua vida dormindo e uma boa noite de sono contribui para um dia a dia com mais saúde. Durante o sono, o ronco é algo que afeta muitas pessoas e que tornou-se anedota ao longo do tempo. Na roda de amigos se diz que todo homem nasceu para casar, engordar e roncar! Normal? Não! Por trás de um barulho intenso podem-se esconder problemas graves de saúde. Muitos até são alertados pelo cônjuge da existência incômoda desse som, mas, geralmente, negam e apenas uma pequena parcela, a muito custo (ameaçados, algumas vezes, por um divórcio iminente) procuram orientação médica. A procura por ajuda vem aumentando, já que a incidência da doença cresce, chegando a atingir mais de um terço de homens acima de 40 anos e cerca de um quarto das mulheres nessa mesma idade.

Mas, de onde vem esse barulho?
O ronco é característica praticamente exclusiva da espécie humana. Isso por dois motivos: é o único que pode assumir uma posição de “barriga para cima”, ao dormir e, outro detalhe, é a presença de uma faringe (garganta) mais alongada e sem um arcabouço rígido (ósseo) que impeça o seu colabamento. Desvio de septo nasal, pescoço curto e pequeno, amígdalas grandes, úvula (campainha) edemaciada, maxila (queixo) pequeno são algumas das características naqueles que roncam, todas situações avaliadas pelo otorrinolaringologista. Fatores genéticos e ambientais também contribuem para o desenvolvimento do distúrbio e a obesidade é um fator muito prevalente.

Esse som perturbador sugere a presença de um fechamento parcial das vias aéreas e pode ser sucedido pela apneia, que é uma parada completa do fluxo de ar. Pacientes com a síndrome da apneia obstrutiva do sono podem ter também agitação ao dormir, despertares recorrentes com sensação de sufocamento, sonolência diurna excessiva, cefaleia matinal, irritabilidade e baixa concentração.

Talvez você conheça o quadro
Seu (sua) companheiro (a) reclama que você está roncando em demasia à noite e, inclusive, está apresentando paradas na respiração seguidas por um barulho estranho, parecendo que está se afogando. Ele(a) está assustado (a) e algumas vezes acha que você não vai voltar a respirar mais. Às vezes, perde a paciência e insiste para você dormir em outro quarto. E você, por mais horas que fique na cama, ainda acorda cansado(a) e o dia custa a passar, sempre sentindo muito sono, irritabilidade no trabalho e diminuição da concentração.

No caso daqueles que trabalham no trânsito, são motoristas ou lidam com máquinas pesadas, outro sinal preocupante e perigoso é a sonolência diurna excessiva – causa comprovada de acidentes, já que gera uma diminuição dos reflexos e um aumento no tempo de reação.

Como o sono não é de qualidade por causa de múltiplas interrupções, o organismo pode sofrer com vários outros problemas secundários, como arritmias cardíacas, hipertensão arterial sistêmica (pressão alta), infarto agudo do miocárdio (infarto), derrame cerebral (AVC) e impotência sexual. A cada pausa na respiração provocada pela apneia, existe uma descarga de adrenalina, que aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. Esse processo se repete várias vezes na mesma noite e por vários anos fazendo com que a pressão arterial desses pacientes aumente à noite, em vez de diminuir como se espera, costumando exigir várias medicações para controle. Há também um aumento do hormônio do estress (cortisol), que repercute negativamente no seu coração. O paciente que não trata adequadamente o ronco e a apneia possui também maior incidência de complicações anestésicas e pós-operatórias, maior chance de precisar dos cuidados de UTI e de morte prematura.

O tratamento, em geral, envolve vários profissionais, e deve ser feito o mais rapidamente possível, para evitar sequelas em médio e longo prazo ao seu coração. Dependendo da causa, ele pode incluir cirurgias, uso de aparelho dentário e até um equipamento usado toda a noite que gera pressão no ar (empurra o ar) através de uma máscara na face (o mais conhecido é o CPAP). São também importantes medidas gerais, como perda de peso, hábitos de sono regulares e alimentação saudável. Procure o seu cardiologista para averiguar a saúde do seu coração.

Para finalizar, segue um teste padronizado internacionalmente para avaliar a qualidade do seu sono. Responda as perguntas dando notas de 0 a 3:

Qual possibilidade de você cochilar ou adormecer nas situações abaixo?
Dê uma nota de 0-3
0 – nenhuma chance de cochilar
1 – pequena chance de cochilar
2 – moderada chance de cochilar
3 – alta chance de cochilar

Situações
1. Sentado e lendo
2. Vendo televisão
3. Sentado em lugar público sem atividades como sala de espera, cinema, teatro, igreja
4. Como passageiro de carro, trem ou metrô andando por 1 hora sem parar
5. Deitado para descansar a tarde
6. Sentado e conversando com alguém
7. Sentado após uma refeição sem álcool
8. No carro parado por alguns minutos no durante trânsito

Total:

Caso atinja 10 pontos, fique alerta e procure por um especialista para descartar a presença de apneia.

* Dr. Fernando Cesar Mariano é otorrinolaringologista especialista em Medicina do Sono e cirurgião de ronco e apneia e Dr. Rodrigo Cerci é cardiologista e diretor científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia

  • PDF
  • Imprima tranquilo! Nosso layout de impressão não consumirá muitos recursos de sua impressora, pois é preto e branco e contém apenas o texto do artigo.

    Imprimir
  • Email

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

*

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>