Motivação – o Prozac do mundo corporativo

Por Gisele Meter*

Início de semana, abro o facebook e logo vejo uma frase motivacional, desço a timeline, vejo outra e outra e outra.
Deixo o computador de lado e vou consultar a agenda da semana, e ali, escrito na primeira página, em linhas bem marcadas: “palestra motivacional”.

Me sinto um pouco sufocada, e não estou ainda nem na metade da manhã, levanto, e caminho para buscar um café, talvez esteja precisando disso. No trajeto, encontro um colega de escritório que me olha de um jeito intrigado e pergunta: “você está bem? Parece meio desmotivada.” Pronto! Era só o que faltava.
Disfarço o meu desconforto com um sorriso de bom dia.
Volto para a minha sala, apresso o passo porque o telefone está tocando, atendo meio ofegante e escuto a voz do gerente dizendo: “acho que a minha equipe está muito motivada hoje!”

Quase não consigo acreditar no que escuto naquele momento. Só podia ser brincadeira! Respiro fundo e respondo com um genérico: que bom!
Volto ao computador, entro na internet e digito compassadamente – motivação. Milhares de sites aparecem em minha frente, procuro não o significado da palavra, mas o seu sinônimo, na tentativa de entender o significado por outra perspectiva. Encontro várias definições, dentre elas duas que me chamam a atenção: estímulo e incentivo. Noto que a minha indignação não está na palavra por si só, nem no que ela representa, mas em como acabou sendo banalizada pelas pessoas.
Hoje, quase tudo nessa vida se resolve com motivação, principalmente no ambiente corporativo. Não está entregando bons resultados? Motivação. Precisa que a equipe renda mais? Motivação! Está se sentindo pra baixo? Motiva que passa!

A motivação virou o novo Prozac do mundo corporativo. O problema está justamente nisso. Muitas pessoas veem a motivação como um caminho certo para a felicidade, o que nem sempre é verdadeiro. Não estou desmerecendo a motivação, muito pelo contrário, acredito que esta é uma excelente ferramenta para o sucesso de qualquer pessoa, apenas acredito que esta palavra está sendo muito banalizada ultimamente.

Se pensarmos de forma mais profunda, podemos definir a motivação como sendo a base para a mudança, é ela a responsável pela orientação para ação de um comportamento, logo se torna parte fundamental para conquistar objetivos, pois, sem o desejo da ação é difícil obtermos resultados significativos. No entanto, acredito que antes da motivação, precisamos pensar em um nível anterior: a reflexão do comportamento presente. Algo que vem sido esquecido nas empresas, ou pelo menos deixado em segundo plano.
Como posso motivar de forma adequada, se não compreendo exatamente a dinâmica, as causas e os motivos reais do comportamento das pessoas? Refletir antes de motivar, não se trata apenas de um pensamento passivo, mas de uma ação estratégica para que o que se espera seja realmente alcançado. Sabemos que agir sem pensar, pode ser desastroso, ainda mais no mundo corporativo. Parece óbvio que antes de motivar, precisamos compreender para que estamos fazendo isso, algo que nem todas as organizações fazem.

Motivar sem refletir sobre as causas do problema virou a solução para isentar-se da responsabilidade pois, se torna um álibi perfeito para qualquer empresa, que transfere assim a responsabilidade para quem está sendo motivado, evitando olhar para as próprias falhas que possam estar acontecendo em seu ambiente, sua cultura ou até mesmo em seu propósito.

Existe ainda outro fator acerca da reflexão que pode mostrar coisas que talvez a organização não esteja preparada para lidar e, por isso, prefere não pensar de forma mais profunda, não percebendo que assim, está fechando os olhos para um problema que pode se tornar uma catástrofe iminente.

O fato é que se alinharmos a reflexão do que está acontecendo, com a motivação para uma ação bem definida, podemos ter uma grande ferramenta estratégica nas mãos. Mas, isto deve ser feito de forma consciente, aberta e com um propósito claro.
Acredito que a motivação é, sem sombra de dúvidas, o principal fator da mudança e da busca por bons resultados, mas isto somente é possível se estivermos conscientes do que queremos fazer, ou seja, se refletirmos antes de tomar qualquer decisão. Fazendo isso, acabamos por abrir um caminho importante, o do sucesso e da realização.
E por acaso, existe algo mais motivador do que isso?

*Gisele Meter é psicóloga (CRP 08/18389), empresária, diretora executiva de Recursos Humanos, palestrante, consultora estratégica em gestão de pessoas e gestão de mudança organizacional. Colunista de portais e sites voltados ao público feminino e de Administração, ela também é a idealizadora do método Life® – Liderança Feminina Estratégica para o desenvolvimento de líderes nas empresas.

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