Será que nos livramos do complexo de vira-lata?

Por Thiago Rothstein

Depois do episódio do Maracanaço de 1950, Nelson Rodrigues resumiu a psique brasileira como portadora de um complexo de vira-latas. O dramaturgo não se referia apenas ao futebol naquela ocasião e sim a “inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. Rodrigues foi ainda mais fundo nessa questão quando disse que “o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”.

Lógico que o cenário hoje já é outro. Passaram-se 63 anos da crônica de Rodrigues e o brasileiro já lutou pelos seus direitos durante a ditadura militar, eleições diretas e o impeachment do Collor. A autoestima do brasileiro, com certeza, é outra. Mas, mesmo assim, conseguimos ver em nós uma pena de si próprio, uma cabeça baixa, uma certa vergonha e, talvez, até preguiça de brigar pelos nossos direitos. Claro que essa é uma visão generalizada. Mas, temos que admitir que a passividade é uma característica de nosso povo.

Mais de seis décadas nos separam da última Copa no Brasil. Será que esse tempo foi suficiente para curar o complexo diagnosticado por Nelson Rodrigues?

Além do complexo de inferioridade, o brasileiro sempre se mostrou contido para reivindicar. Qualquer psicólogo de botequim diria que faz mal conter as emoções e quando elas chegam a um limite, as coisas podem tomar caminhos irreversíveis. Uma das imagens compartilhadas pelas redes sociais que demonstra isso é a de um navio, representando o governo, afundando ao colidir com um iceberg de R$ 0,20.

Espero que os acontecimentos da última semana não sejam apenas uma onda passageira. Espero que nosso consciente coletivo tenha se livrado do espírito de coitadinho e, que, finalmente tenha tomado pra si as rédeas da situação.

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