O que podemos aprender com os EUA sobre Educação Corporativa / Por Prof. Marcus Garcia

Uma pesquisa breve pelas notícias sobre educação corporativa nos principais veículos de comunicação brasileiros deixa o leitor otimista. Segundo elas, nossos empresários vêm se conscientizando de forma crescente da importância de cultivar o capital intelectual de suas empresas e a educação profissional vem deixando de ser encarada como gasto para se tornar investimento.

Entretanto, em geral, para os empresários brasileiros as palavras “educação corporativa” trazem à mente o treinamento pontual de funcionários para que estes consigam cumprir com qualidade funções específicas. Educação corporativa, porém, é muito mais que isso e pode ser a diferença entre sucesso e fracasso nos negócios. Poucas empresas brasileiras, por exemplo, têm entre os executivos da diretoria ou alta gerência o equivalente ao chief learning officer ou CLO do mercado norte-americano, cuja atribuição básica é fomentar o desenvolvimento e a instalação das competências empresariais e humanas mais importantes para a viabilização das estratégias de negócios de forma sistemática, estratégica e contínua. Ou seja, desenvolver todo o Sistema de Educação Corporativa (SEC) da organização.

Estágio embrionário: Em 2013, a Associação Brasileira de Educação Corporativa (AEC) estimava que o Brasil tinha aproximadamente 300 universidades corporativas. Já a pesquisa “Práticas e resultados da Educação Corporativa 2012″ da Fundação Instituto de Administração (FIA), envolvendo 60 universidades corporativas, mostrou que, naquele ano, 55% das empresas entrevistadas ampliaram os recursos das UCs. Se você achou bons esses números, veja esses outros: o Brasil tem cerca de 13 milhões de empresas legalmente constituídas, e se considerarmos apenas as de médio e grande portes (com mais de 100 funcionários e, em tese, as mais aparelhadas para estruturar um SEC), estas somam cerca de 2 milhões de empresas. Então se considerarmos os números mais otimistas, apenas 0,1%, ou seja, uma em cada mil empresas conta com uma iniciativa de Educação Corporativa ou similar.

A importância da educação corporativa, portanto, aparentemente está compreendida, embora não em sua totalidade e por uma parcela muito pequena do mundo corporativo no Brasil. Mesmo em suas iniciativas em universidades corporativas, o mercado brasileiro demonstra estar mais concentrado em (T&D) treinamento e desenvolvimento do que em (EC) educação corporativa, que não são a mesma coisa. Aquele (T&D) é pontual, específico e direcionado para cobrir uma lacuna de conhecimento técnico; esta (EC) é particular a cada cultura organizacional e conduzida de forma permanente, abrangente, centrada na realidade da empresa e nas suas demandas produtivas, permeando todos os níveis organizacionais e criando um patrimônio para a organização.

O SEC tem como missão pensar a empresa do ponto de vista da atuação de todos os seus profissionais: da diretoria/presidência até as posições operacionais e de apoio. E do ponto de vista da capacidade produtiva das pessoas, olhando para o potencial de entrega individual e de equipes, planejando e executando ações direcionadas ao desenvolvimento permanente, visando à excelência de atuação.

A empresa que tem um SEC estratégico e bem gerenciado, tem os instrumentos necessários para conhecer os funcionários. Assim, pode ser muito mais assertiva no atendimento às demandas desses funcionários relacionadas às condições de trabalho ou ao foco do trabalho. E ao perceber que a empresa em que trabalham se preocupa com isso, por sua vez, os funcionários se sentem valorizados e motivados.

Na gestão de um SEC eficiente, deve haver um profissional executivo de alto escalão administrativo como o CLO. Ele deve assegurar que a empresa tenha o conhecimento crítico e estratégico para alcançar seus objetivos, em um ambiente em que todos participem e contribuam. Claramente falando, é o profissional que procura a geração de receita para a empresa por meio do capital intelectual dela e a guia para a liderança na área em que ela atua. Para isso, desenvolve programas em todos os níveis organizacionais na busca pela construção das habilidades técnicas, de liderança, além de contribuir no desenho do organograma, plano de cargos e outras necessidades da empresa.

O CLO utiliza-se da tecnologia disponível para aprendizagem ou até busca o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas as suas necessidades. Ele pode pensar estrategicamente em novas competências, novos usos para as já existentes e em formas de estabelecer um ambiente de trabalho saudável, estimulante e motivador, transformando-o em valor para o negócio.
Não há como o CLO atuar em desenvolvimento humano com foco na missão, visão e valores de uma organização empresarial caso não tenha uma sólida formação em educação, ensino e aprendizagem de adultos aliada ao conhecimento dos movimentos do mundo dos negócios e muita experiência em educação corporativa e gestão de pessoas. Com o aumento da compreensão do empresariado brasileiro do que realmente é a educação corporativa em seu todo, o CLO pode ser uma das próximas profissões de destaque em nosso mercado de trabalho.
Professor Marcus Garcia

Integrante do Grupo de Estudos em Inovação Tecnológica (UFPR), é pedagogo, especialista em Gestão do Conhecimento e mestre em Ciência, Gestão e Tecnologia da Informação, o professor Marcus Garcia leciona há 30 anos. Autor de 17 livros nas áreas técnica, motivacional e educacional, entre eles as séries “Educação Profissional” e “A Escola no Século XXI”, é palestrante em desenvolvimento humano e educação.

Para mais informações sobre o palestrante, é só acessar o site: www.marcusgarcia.pro.br

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