“A crise hídrica é institucional”, afirma palestrante em Dia Mundial da Água

De acordo com autoridades e especialistas, investimentos insuficientes e gestão inadequada são as principais causas dos problemas hídricos no Brasil

Investimentos isolados, má gestão e problemas de regulação são os principais fatores que contribuem para a escassez da água no Brasil de acordo com especialistas e autoridades que estiveram presentes no simpósio “Dia Mundial da Água – Enfrentando a crise”,  realizado no dia 23 de março, em Curitiba, pela Paraná Metrologia, com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná – Fiep, Copel, Sanepar, Itaipu Binacional, Tecpar e Institutos Lactec. “A gestão dos recursos hídricos e importantes obras de infraestrutura passam longe do foco e decisões estratégicas do governo. O que temos é uma crise institucional. É necessário priorizar o problema e melhorar a gestão de demanda e oferta”, afirmou Patricia Boson, secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente (Cema) da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais).

Dados da Agência Nacional das Águas (ANA) apresentados no simpósio mostram que, atualmente, o país conta com 45% da demanda por água com cobertura, mas os outros 55% precisam de investimentos em manancias e ampliação de sistema, que ainda tem muitas perdas e pouco investimento. “Existem pesquisas que apontam até 37% de perda em água tratada no Brasil. Grande parte dessa perda é de água não consumida, não medida ou furtada”, contou Marcelo Depexe, engenheiro da Sanepar. Para controlar melhor esse processo, ele explica que é necessário mais hidrometração que, hoje, já cobre 91,1% dos consumidores, embora deixe 4,4 milhões de fora. “Se conseguíssemos uma redução de apenas 10% nas perdas, iríamos agregar R$ 1,3 bilhões na receita operacional, mas investe-se ainda muito pouco em controle, tecnologia, capacitação e gestão. Atualmente, os investimentos só controlam as perdas”, revela.

A insuficiência de investimentos e má gestão dos governos acabou fazendo com que diversos fatores influenciem negativamente na disponibilidade da água e manutenção dos recursos hídricos. “Não podemos culpar as mudanças climáticas e elas só aumentarão. Precisamos investir em melhorias no reservatório de água”, salientou o professor da Universidade Federal do Paraná, Francisco Luiz Sibut Gomide. O representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, Alan Bojanic, apontou que é preciso saber lidar com os dois extremos climáticos da disponibilidade de água: enchentes e secas, principalmente em setores como a agricultura. “Melhorias na infraestrutura da irrigação, na capacidade de armazenamento, reutilização segura de águas residuais que, geralmente, podem ser usadas novamente de duas a três vezes, e recolher água para irrigação suplementar são algumas das soluções para esse setor”, observou. O reuso da água é uma solução que pode ser implantada em todos os setores. “A indústria está sempre buscando investir em novas tecnologias, água de reuso, plantas com ciclos fechados que visam a racionalização e economia no consumo de água” comentou Edson Campagnolo, presidente da Fiep.

O presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche, comentou sobre outro problema: as ocupações irregulares nos grandes centros urbanos, que acabam despejando esgoto em rios. “Essas ocupações impactam diretamente na poluição. Porém, a legislação não permite que se invista em uma infraestrutura de captação desse esgoto”, disse Chaowiche.

O superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes Soares, destacou que está sendo produzido um Plano Nacional de Segurança Hídrica. “Estamos definindo diretrizes, conceitos e critérios com estratégias para garantir a oferta de água e reduzir riscos associados a possíveis eventos críticos.”

Preservação
Os especialistas e autoridades presentes no simpósio concordam que somente investimentos em infraestrutura e novas leis não funcionam se não houver água. Para isso, a preservação de manancias e bacias hidrográficas é fundamental. “Ainda existe muito pouca consideração ao sistema ambiental e só são consideradas demandas específicas e impactos locais. Precisamos focar na preservação e entender que existe um custo no futuro que traz um valor para ser levado em conta no presente”, observou José Luiz Alqueres, conselheiro da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FDBS).

Na Itaipu, o programa “Cultivando Água Boa” conta com programas e ações para recuperar microbacias hidrográficas e proteger as matas ciliares na confluência dos rios Paraná e Iguaçu desde 2003. “É um projeto que envolve a participação de órgãos governamentais, ONGs, instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas. A prevenção também depende da conscientização de toda a sociedade”, esclarece Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional.

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