E aí, melhorou sua “autoestima”?

Por Kristiane Rothstein

Confesso, me irrito muito com o uso da palavra autoestima a todo o momento e para qualquer situação. Tem umas duas ou três propagandas que foram veiculadas a exaustão na televisão, que usavam o “autoestima” para falar de espinhas. Numa delas, o ator (vestido de médico) diz que não quer que seus filhos sofram com sua “autoestima abalada” por ter espinhas no rosto. Sim, claro que eu sei que são os adolescentes que mais têm espinhas e que nesta fase estamos mais sensíveis e sujeitos a críticas.

Uma espinha na ponta do nariz certamente traz muitos aborrecimentos quando se tem 13 ou 16 anos. Mas, comparar a algo que abalará sua vida para sempre, de fato, é um grande exagero. Da forma que o “médico” diz parece que o adolescente pode ter um trauma comparado a uma doença séria, a uma perda de um familiar ou sei lá mais o quê…
Ora, ou trata-se de mero apelo publicitário (muito ruim, por sinal) ou essa geração está muito frágil! Como alguém pode ter sua autoestima (vale lembrar que o termo significa amor próprio, gostar de si mesmo) abalada porque está com uma espinha no rosto ou por que engordou ou não consegue ter uma roupa nova?

Quando comecei a fazer reeducação alimentar, eliminei 20 quilos. Quando as pessoas me viam perguntavam: “Ah, melhorou sua autoestima?” No início, eu respondia: “não, só me acho mais bonita e tenho mais fôlego para caminhar.” As pessoas estranhavam meu comentário, mas eu percebia um certo desapontamento. Com o tempo, passei a não dizer mais nada, só balançava a cabeça afirmativamente.

Não consigo entender como algo externo interfere em um sentimento interno, que deve ser alimentado sim, mas não com coisas que passam, que são efêmeras, não duram. Ninguém me pergunta, por exemplo, quando termino de ler um livro “E aí, melhorou a sua autoestima?”
A melhor forma de alimentar a autoestima é com o amor da família, dos amigos. Aos poucos, perceberemos que temos o tão almejado amor próprio, que se molda com sentimentos de verdade e não com coisas.

É fato que vivemos a era do belo e de forma exacerbada. Vejo filhos falando para seus pais que precisam do vestido X ou do bonés Y para serem mais felizes… E pior, seus pais compram!
Algo está equivocado. O excesso do ter e não do ser está nos fragilizando. Talvez, não por acaso, vivamos numa época com tantas dependências de drogas – álcool, medicamentos de tarja preta, crack e tantas outras. Será que pessoas não se gostam mais?
Não, esse texto não tem fim. O fim fica para a reflexão de cada um.

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