Notícia que gera espetáculo

Por Fabíola Cottet

Uma tragédia. Uma grande tragédia. Várias tragédias. Começamos o ano de 2013 com notícias bombásticas pelo mundo. Primeiro um desastre aqui no Brasil, na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Todos sabem que a boate pegou fogo e morreram mais de 200 jovens. Após isso, o Papa Bento XVI renuncia o seu posto, o mais alto da Igreja Católica. Simultaneamente, um meteorito cai na Rússia, uma onda de ataques violentos atinge Santa Catarina, greves e paralisações ocorrem pelo mundo, dentre outras notícias ruins.

Quando o leitor lê um jornal, busca informação em um site, assiste um jornal na TV ou ouve na rádio, ele está buscando informação, está procurando saber o que aconteceu, como aconteceu, onde, porquê e quem são os envolvidos. O espectador não quer ver um infográfico mostrando o passo a passo de como centenas de pessoas morreram, ou quais foram as causas recriadas em reconstituições caríssimas, que mostram em detalhes o que ocasionou a tragédia.

Vou citar aqui dois acontecimentos recentes, a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria, e a renúncia do Papa Bento XVI. A primeira foi uma maratona de imagens, depoimentos de familiares de vítimas, entrevistas com sobreviventes, depoimentos de bombeiros, declarações de especialistas em pirotecnia, âncoras e outros jornalistas com comentários, no mínimo infelizes, sobre os fatos, dentre muitas outras tentativas de mais pontos no Ibope. Os jornais impressos, páginas da internet e redes sociais também não podiam perder o tempo da notícia. Jornais pedindo para seguidores enviarem os perfis das vítimas no Facebook, notícias de minuto a minuto, ou até mesmo, em tempo real sobre o que estava acontecendo. Muitas vezes eu pensei estar acompanhando um jogo de futebol pela internet, no sistema “lance a lance”.

Alguns programas televisivos, que se dizem noticiosos, chegaram a fazer uma espécie de reconstrução do cenário da Boate Kiss em ambiente externo, gastando, eu imagino, fortunas para mostrar o passo a passo da tragédia, levando até o lugar pessoas que sobreviveram ao incêndio. Outros tentaram recriar o cenário dos acontecimentos no próprio programa, com sapatos espalhados no cenário, móveis derrubados e fumaça artificial, tudo para tentar ser “o mais fiel possível” aos acontecimentos, explorando detalhes à exaustão. Não bastava somente informar sobre o acontecimento e dar os desdobramentos do caso?

O mesmo ocorreu com a renúncia do Papa. Foram matérias e mais matérias sobre a vida do pontífice, sobre o que motivou sua decisão, especulações sobre o seu estado de saúde, notícias e mais notícias no estilo “minuto a minuto”, com galeria de imagens, legendas, suposições e especulações. Informações não confirmadas e muito menos checadas se tornaram um prato cheio para a mídia. Fora isso, todos os desdobramentos e consequências de um acontecimento, acabam virando um grande espetáculo, me lembrando de um livro que li na época de faculdade, intitulado “Showrnalismo: a notícia como espetáculo”.

Acredito, como jornalista, que devemos levar em consideração princípios básicos na hora de informar: ética, transparência e respeito. Para transmitir uma notícia ruim não é necessário um show. O sensacionalismo deve ser deixado de lado. Mas entramos naquele tradicional círculo vicioso, a imprensa mostra porque dá audiência ou o público assiste porque a mídia impõe? É uma pergunta sem resposta.

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