Estranho no ninho

Por Lucas Rothstein

Trabalho na Expressa Comunicação, agência de Comunicação Integrada, com ênfase em assessoria de imprensa, onde, obviamente, a maioria dos integrantes é jornalista. Para esses profissionais escrever é um processo natural e, muito provavelmente, esta vocação foi despertada nos bancos escolares, quando se depararam com a disciplina de Língua Portuguesa. Sou um pouco estranho no ninho, pois minha predileção sempre foi – e continua sendo – a matemática. Mas, como sempre encontramos uma forma para dar vazão ao que gostamos, eu também consigo exercer a minha amada matemática.

O que faço entre gramáticas, dicionários e press-releases? Faço o clipping! Para quem não sabe, clipping é o relatório que toda assessoria de imprensa entrega ao cliente ao final de um determinado período, mostrando as reportagens e notícias em geral que foram veiculadas sobre ele em jornais, revistas, emissoras de rádio, televisão e internet. Neste relatório há o tamanho exato da matéria, medição do centímetro de publicação, comparativo com preços de tabelas de anúncios… Minha função, como assistente de clipping, é fazer cálculos, ou seja, não me faltam números para apreciar!

Sempre digo às pessoas que quero seguir a profissão de matemático e escuto logo um “xii”, ou caretas muito assustadas. Pergunto a mim mesmo porque isso acontece: por que a maioria das pessoas não gosta da matemática ou não consegue aprendê-la? Por que os professores lidam com essa dificuldade em sala de aula? Por que o aluno não se interessa por essa matéria logo “de cara”? Será pré-conceito? O que fazer para terem motivação, prestarem atenção e perceberem que pode ser fácil e até divertido? Hoje, há muitos jogos que estimulam a prática da matemática e ajudam a quebrar o mito de que é uma disciplina difícil.

Acredito que as pessoas não gostam da matéria, primeiramente pelo preconceito já estabelecido e porque ela não é ensinada de maneira que a relacione com o dia a dia e a sociedade. O aluno acha desnecessário aprender, pois considera que não irá precisar no futuro, então, para que aprender fórmulas, equações? Isso dificulta o interesse do aluno pela matéria, que acaba aprendendo apenas o básico para tirar notas mínimas para passar de ano. Com isso, cria-se uma aversão aos conteúdos relacionados, querendo distância da área. Muitas vezes, não ter nenhuma disciplina aliada à matemática é o principal critério para escolher uma faculdade que se transformará na futura profissão.

Nesse ano, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) ofertou 44 vagas para o Curso de Matemática e havia menos do dobro de inscritos, deixando 1,8 por vaga – um dos cursos menos concorridos. Havendo pouca procura nessa área, ocorre a falta de profissionais no mercado de trabalho.

Ainda se tem a visão de que não existem muitas opções para o trabalho com a matemática. Lembram apenas a de professor e, automaticamente, associam a uma imagem desvalorizada, de que ele é mal remunerado e não tem seu trabalho reconhecido. Mas, essa é uma visão bem distorcida, pois há várias profissões relacionadas aos números que podem ser bem lucrativas: o matemático poderá lecionar e, sendo mestre ou doutor, consegue boas remunerações; pode abraçar a Economia; ser estatístico e também recorrer às engenharias.

Alguns colegas já me procuraram para pedir ajuda na matéria, tirar dúvidas, saber o motivo do erro, qual o melhor jeito de fazer e os pontos principais do exercício e conteúdo. Notei que os maiores problemas não ocorrem essencialmente na matemática, e sim no Português. Por incrível que pareça, o erro começa na interpretação do enunciado da questão. Muitas vezes também, precisa-se de desenho e se desenha errado, colocam-se informações em lugares incorretos modificando o resultado da questão.

Outra falha ocorre na matemática propriamente dita, nos cálculos, conta básica, e principalmente nas propriedades matemáticas como, por exemplo, radiciação e potência, que têm regras e muitas destas são esquecidas e, aí, não se sabe como prosseguir o exercício. Por último, na hora de transformar, por exemplo, de quilômetros para metros, acabam se equivocando novamente.

Mas, o maior erro mesmo, é não tirar as dúvidas! Quanto mais elas se acumulam, pior é. Muitos colegas não perguntam na hora devida, muitas vezes por vergonha, distração ou porque não entendeu nada, por isso, nem tem o que perguntar. O professor pergunta se entenderam e ninguém se manifesta, consequentemente, ele segue com a matéria. Quando o aluno vai perceber há tanto conteúdo aprofundado, que ele se complica mais ainda. Afinal, nem compreendeu a base! Para piorar, não vai aos atendimentos que o docente fornece para esclarecer dúvidas. Aí, cria-se um ciclo vicioso: o professor acha que está ensinando, o aluno faz de conta que está aprendendo… Assim, o estudante se dá mal e limita suas possibilidades profissionais.

Hoje, a profissão de matemático já está sendo mais valorizada pela escassez de profissionais na área. O que se espera, portanto, são professores que sejam tão apaixonados pela matemática que ensinarão seus alunos com prazer e diversão, beneficiando os interessados pela matéria e também, o futuro de nossa Educação e nosso País.

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